A chamada “crise dos 3 anos” costuma se manifestar por meio de choros incontroláveis, birras, manhas e teimosia, deixando muitos adultos incomodados e desorientados — especialmente porque isso geralmente acontece em espaços sociais amplos, como mercados, parquinhos, shoppings, sob o olhar e julgamento de desconhecidos.
Na verdade, essas manifestações não são exatamente uma crise, mas sim uma fase do desenvolvimento infantil tão importante quanto outras, como a fase motora. Entender isso é o primeiro passo para lidar com a criança nesse momento e dar o devido valor à sua forma de expressão.
Geralmente, os comportamentos dessa fase começam a surgir por volta dos dois anos e meio a três anos de idade. Nessa fase, a criança começa a desenvolver autonomia, buscando fazer as coisas de forma mais independente e lutando para conquistar o que deseja. Isso é ótimo! Autonomia e capacidade de planejamento são habilidades valiosas para alcançar objetivos e são essenciais na formação humana. Resumindo: essa fase é bastante positiva para o desenvolvimento infantil.
O problema é que as crises tendem a se intensificar porque a fase da autonomia antecede a da linguagem. Sem domínio das palavras, a criança recorre ao que tem de mais expressivo para impor seus desejos a um adulto — alguém muito mais forte do que ela. É aí que entram o choro, os gritos, as birras e o se jogar no chão!
A educadora Nereide Tolentino interpreta essas ações como um exercício de combatividade, ou seja, “a capacidade de lutar pelos seus objetivos”. E qual família não deseja que seu filho desenvolva essa habilidade de lutar pelo que quer?
Portanto, a postura e a forma como o adulto lida com a criança durante essas crises são determinantes para o desenvolvimento socioemocional e cognitivo do pequeno, com impactos que podem se estender até a vida adulta.
IMPORTANTE!
Você deve conduzir os momentos de crise de forma que a criança perceba que é importante buscar aquilo que deseja, mas que ela pode (e deve) usar palavras para expressar seus desejos — e que nem sempre será possível obter tudo no momento em que quer. Assim, você não anula a vontade de alcançar objetivos, mas ensina meios mais adequados de comunicação.
Como mediar os momentos de crise?
- SEJA O ADULTO NA RELAÇÃO:
Não se envolva como se fosse outra criança na situação. Lembre-se de que você é o adulto e evite deixar a adrenalina assumir o controle com gritos, movimentos bruscos ou agressividade. - RESPIRE FUNDO E MANTENHA O POSICIONAMENTO:
Do início ao fim da crise, mantenha uma postura firme e justifique, com respostas curtas e objetivas, o motivo pelo qual não foi possível atender ao pedido da criança.
Por exemplo: “Neste momento não podemos levar este brinquedo, porque a mamãe só tem dinheiro para comprar os alimentos. Nem sempre conseguimos comprar tudo o que queremos.”
Se você mantiver essa postura, a criança perceberá que chorar ou fazer birra não a ajudará a conseguir o que quer. - SEJA SOLIDÁRIO COM OS SENTIMENTOS DA CRIANÇA:
Mostre que você entende o que ela sente — raiva, frustração — e observe o que pode ajudá-la a se acalmar, mas sem voltar atrás em sua decisão. Caso contrário, as crises tendem a aumentar, pois a criança entenderá que, com choro e birra, conseguirá tudo o que deseja. - ESPERE A CRIANÇA SE ACALMAR E CONVERSE:
Depois que ela estiver mais tranquila, converse para ajudá-la a expressar com palavras o que deseja e a aprender a ouvir, em vez de apenas chorar, gritar ou se jogar no chão. Mostre que essas atitudes não combinam com uma criança tão linda e inteligente quanto ela. Ajude-a a descobrir o poder da palavra na relação com os outros, já que a fase da linguagem sucede a fase da autonomia.
Paralelamente a tudo isso…
- FORTALEÇA O VÍNCULO AFETIVO:
Priorize momentos diários ao lado do seu filho: converse, olhe nos olhos, brinque sem interrupções. O ditado é verdadeiro: não importa a quantidade, mas sim a qualidade do tempo juntos. - FAVOREÇA A AUTONOMIA DA CRIANÇA:
Permita que ela realize tarefas compatíveis com sua idade, como organizar o quarto, ajudar a colocar os talheres na mesa, servir-se sozinha, escolher o pijama ou a roupa para brincar. - RECONHEÇA E REFORCE PROGRESSOS:
Quando a criança negociar de outras maneiras que não sejam por birra, se possível, atenda ao pedido, desde que isso não comprometa sua segurança. Por exemplo: no sábado, ela pode brincar até mais tarde porque não precisa acordar cedo no dia seguinte. Sempre explique o motivo pelo qual está atendendo ao pedido.
Sabemos que não é fácil agir com coerência em todos os momentos de crise. Que tal tentar aos poucos, inserindo uma dica de cada vez?
1 Comentário
Parabéns pela postagem!